Creio ter tido uma noite agitada, de sonhos e pesadelos indescritíveis, pois acordei cansado, como se tivesse terminado uma maratona e confuso, como curtindo uma monstruosa “ressaca”.
Olhei em minha volta, vi Ivete tranquilamente repousando, apanhei o relógio na cabeceira, eram sete e trinta. Levantei-me e meio trôpego fui à varanda para ver o tempo. Dia frio e com sol. Constatei, estava vivo e não “sonâmbulo”.
Pensei comigo, deveria ter sido efeito do que lera na véspera, na biografia do meu saudoso amigo, Embaixador Hugo Goutier “Coisas do longo e lento processo incoerente que é viver”.
Esta é a vida que amamos tanto, sofremos muito, cheia de múltiplas surpresas agradáveis e outras tantas desagradáveis.
Senti que estava lúcido e que nada acontecera de anormal. Feito a higiene matinal e antes de afeitar-me para ir trabalhar, tomei uma xícara de café pequena com adoçante, hábito adquirido há longos anos. É minha única refeição antes do almoço.
Sentei-me na sala para ler os jornais do dia e no IPAD, o Estadão e a Folha de São Paulo.
Foi lendo, que encontrei uma justificativa para o que sentira ao acordar. Não tinha nada a ver com sonhos e pesadelos, nem um mal natural da minha idade.
O que acontecera era simplesmente, a tomada de consciência da realidade que estava vivendo.
Na véspera, notícias tristes de dois parentes próximos. Negócios certos, porém, não concluídos. Noite fria para o nosso tempo tropical e agora ante aos jornais as manchetes alarmantes: Corrupção do cartel dos metrôs e túneis em São Paulo e outras capitais; Denúncia de Ex-Diretor da Petrobras sobre desvio de milhões de dólares para a campanha da Dilma e do PT; Supremo Tribunal inverte a pauta do mensalão e retarda as condenações havidas; Amarildo, o pedreiro da Rocinha desaparecido, provocando reações populares; Câmara de São Paulo é cercada e ocupada por manifestantes contra a composição da CPI dos transportes; Câmara Federal, acuada, vota orçamento impositivo, engessando o Executivo e torna lei o “toma lá da cá”; A Polícia não consegue desvendar o homicídio da família, atribuído a uma criança; O Dólar em alta galopante, e em contrapartida o déficit das contas do Tesouro. Nossa dívida intensa em assustador crescimento; Os investidores estrangeiros procurando portos mais seguros para seus investimentos, que tenham normas de segurança jurídico-econômico e ainda o resistente fantasma da inflação com consequente início do desemprego, especialmente na Indústria, com crescimento estagnado, etc.
Parei, suspirei, olhei para o alto, onde tenho uma versão em bronze de Cristo Crucificado de Agostinelli, presente do Ex-Diretor da revista Manchete, Oscar Bloch. Contemplei-o por alguns segundos de meditação e passei a ler os jornais locais; Greve da Polícia Civil; Denúncia de Assessor da Celesc sobre desvio de volumosos recursos ocorridos em 2010; Novas alterações da Via de contorno de Florianópolis; Dúvidas quanto a conclusão das obras da Ponte Hercílio Luz; Geada e neve atingem a colheita de produtos agrícolas; Cáos na Saúde e greve de médicos em protesto a importação de profissionais do Exterior; Distribuição, com escancarada antecipação da campanha eleitoral, de retro- escavadeiras, entregues pessoalmente pela Senadora sindicalista, cantora e sambista, Ideli Salvati e Deputados do PT; BR 101 vai levar mais dez anos para ficar pronta, etc.
Parei de vez.
Pensei, vou para o escritório, pois tenho duas audiências marcadas.
Peguei o carro e dirigindo, sem prestar atenção nos veículos que me circundavam, nem nos pedestres, geralmente afoitos, fui meditando e me perguntando intimamente; Porque haveria eu, nesta altura da vida, de aborrecer-me, preocupar-me? Pois cronologicamente tenho meus dias contados. Bom seria aproveitá-los, vivê-los da melhor maneira possível.
Entretanto, a razão me fez mudar a rota do meu aparente e lógico raciocínio: Afinal não devo ser egoísta.
E os meus filhos, netos, bisnetos, que ainda não os tenho , enfim, todas estas gerações que me sucederem, o que serão delas? O que acontecerá com eles se as coisas continuarem deste jeito? Pior ainda, e se agravarem-se?
Como deveria então proceder? Teria eu condições de ajudar a mudar esta triste e lamentável situação? A realidade sombria existente? Com que forças? Com que poderes?
Pensei em Platão que dizia “o que faz andar o barco não são as velas enfunadas mas o vento que não se vê”.
De súbito me senti aliviado e as dificuldades impostas pelo tempo, tornaram-me leve como o vento que não se vê.
Fui além, recordei de John Masefield (1878-1967), poeta inglês “Vi flores nascerem em lugares pedregosos; coisas bem feitas por pessoas feias; a Taça de Ouro vencida pelo pior cavalo de corridas e sendo assim, também confio”.
Estava então e estou, convicto que sozinho não farei nada, mas com muitos, juntos, poderemos mudar esta triste realidade, banir a corrupção e a impunidade que sagram o país e o levam para o atraso indesejável.
Estou convencido, que depende de nós, da nossa vontade, da maioria dos brasileiros de bem, deixar para os nossos descendentes o Brasil que tanto sonhamos.
Tenho esperança. Vamos para as ruas protestar ordeiramente, exigir mudanças radicais já, agora!
Depois teremos no voto a nossa grande arma. Voto consciente nas escolhas, capazes e dignas de nos representar.
Quem vota em Tiririca tem o governo que merece.
Eu acredito, eu tenho fé, eu confio!
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