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sexta-feira, 26 de julho de 2013

Não era minha hora e o assassinado foi o Adalberto. de Paulo Konder Bornhausen.


                Estávamos às vésperas das eleições. Nesse dia tinham sido programados os comícios de Joinville e, antes, o de Guaramirim. Este, tinha seu horário previsto para as 12h30min. Logo depois haveria um grande churrasco no pátio da Igreja Matriz.

            Fiquei mais de uma semana em Guaramirim, organizando o evento. Previa a presença de 1.200 a 1.500 pessoas, o que representava um árduo trabalho de organização e arregimentação. Para esta tarefa, além do meu querido amigo e compadre Paulo Geraldo Collares (Paulinho Tatú) contei com o inestimável auxílio do Prefeito Rodolfo Jahn, que ajudara a ser eleito, do empresário Paulino de Bem, do prático de dentista Alfredo Dunzer, do correspondente do Banco Inco, Rodolfo Depassé (o Egon João da Silva, hoje um dos donos da Weg, era escriturário) do Padre Matias Stein que cedera o salão Paroquial para a realização do comício e do Arnoldo Billaardt (cujo neto foi até pouco tempo Prefeito de Guaramirim) e grande número daqueles que me elegeram deputado pelo município.

            No dia aprazado, iniciamos os preparativos do churrasco, cercados e previamente erguidos, onde seriam assados os espetos de carne. Adverti aos encarregados do churrasco que não liberassem as bebidas, ou melhor, a cerveja, antes de terminado o comício. A comitiva do Jorge e do Heriberto estava atrasada e, lá pelas 14h30min, a única maneira de segurar as quase mil pessoas presentes era servir a cerveja e evitar a dispersão do povo. Pressionado pelos companheiros, temerosos de um rápido esvaziamento e conseqüente o fracasso do comício, autorizei, embora preocupado, a liberação da bebida.

            A comitiva continuava atrasada e, em determinado momento, fui avisado que um tal de Dequech, que tinha fama de arruaceiro e perigoso quando bebia, havia pulado o cercado e começara a roubar o churrasco, criando um clima crescente de desordem. Imediatamente corri para o local e, auxiliado pelos presentes, procurei o desordeiro, segurando-o pela camisa e ameaçando-o. Só me lembro de que ele respondeu à ameaça, com uma frase curta, sorrindo ironicamente: “gosto de cabra macho”. Em seguida, levado por amigos, me afastei do local.

            Mal sabia eu que ele tinha dentro das calças, na altura da barriga, um punhal. Voltei para o meu ponto de observação em busca de noticias da comitiva.

            O ambiente estava cada vez mais difícil de ser controlado, a exaltação dos ânimos era provocada pelo longo atraso e estimulada pela bebida. Nesta altura fui até o carro apanhar meu caderno de telefones para poder avisar do atraso aos companheiros de Joinville e, quando ia fechando a porta do meu Chevrolet ano 1947, de chapa nº 500, fui apertado pelo Dequech que veio decididamente com más intenções. Para a minha sorte ele foi impedido pelo Vichetti, um amigo de Jorge Lacerda, que era um precursor de todos os eventos políticos da campanha. Muito forte, deu-lhe uma “gravata” e o afastou para longe do estacionamento.

            Finalmente, a comitiva chegou ao local do comício com quatro horas de atraso. Jorge fazia-se acompanhar de Heriberto no carro dirigido por Adalberto, seu amigo motorista. Logo atrás vinham, Luiz Nastari, diretor da Estrada de Ferro Paraná-Santa Catarina, e os demais carros da comitiva.

            Iniciamos o comício. Depois de alguns oradores, falou o candidato Jorge Lacerda. Em meio ao seu discurso, Dequech, visivelmente embriagado, aproximou-se da mesa em cima da qual discursava o candidato, e gritou: “Viva Galotti!”. Eu, que tinha ao lado o delegado Chiquinho, solicitei sua pronta intervenção. O delegado desceu da mesa e deu ordem de prisão ao Dequech, levando-o para fora do recinto. (o Dr. Francisco Galotti era o candidato opositor, do PSD).

            Terminado o comício, mandamos servir o churrasco. Devido ao horário, Jorge sugeriu que fossemos imediatamente para Joinville, e me solicitou que dirigisse seu carro para conversarmos eu, ele e o Heriberto. Adalberto levaria o meu carro logo atrás. Chamei Adalberto e dei-lhe dinheiro para pôr gasolina, informando-o que, na direção da saída para Joinville, a uns 300 metros do local de onde estávamos, havia um Posto Texaco.

            Peguei o carro do Jorge, e rumamos para Joinville.

            Adalberto, conforme fora instruído, seguiu até o posto de gasolina, para abastecer o meu carro.

            Quando se preparava para abrir o tanque, do outro lado da rua passava o Dequech acompanhado pelo delegado Chiquinho e, tão logo identificou meu carro, escapando do delegado, correu em sua direção. Vendo Adalberto agachado, ele, bêbado, na certeza de que era eu quem ali estava, sem pestanejar, cravou-lhe o punhal, que levava escondido, na altura do coração, matando-o na hora.

            A notícia do crime só nos chegou quando realizávamos o comício de encerramento da campanha em Joinville.

            Foi traumatizante. Um dos piores momentos da minha vida.

            Não aguardei o término do comício. Rumei para Guaramirim com o Coronel Simões, Chefe da Casa Militar do Governador chegando ao local do crime, o posto Texaco, onde encontrei o Prefeito Rodolfo Jahn e outros meus companheiros que já haviam tomado as providências cabíveis, informando a família da vítima e o Cel. Euclides Simões de Almeida, comunicara ao Governador, meu pai, para providenciar o translado do corpo do Adalberto.

            Em seguida em dois jeeps, um dos quais íamos eu e o Cel. Simões e outro o Delegado Chiquinho e o Sargento Índio (cuja filha tenho o prazer de tê-la como amiga no face, Sr. Rosimere Rosa Angeliotti) partimos para a caça do assassino, que segundo informações esteve bebendo num bar próximo a localidade de Guaramiranga. De relato em relato, o localizamos deitado num terreno próximo a residência dos Klein, em Guaramiranga. O Índio, saltou de garrucha em punho e lhe deu ordem de prisão. Ele completamente embriagado não esboçou qualquer reação. Foi algemado e levado para a prisão em Guaramirim, que era um ex Distrito de Joinville, e abrangia os atuais municípios de Massaranduba, Schroeder e parte de Luis Alves.

            Ainda teria outro encontro com o assassino.

            Quando Secretário do Interior e Justiça, marquei uma visita a Penitenciária de Florianópolis, pois desde aquela época (1957) já lutava para transferi-la para o interior do Estado. Não sei as razões que levaram o então diretor da Penitenciária, meu amigo Ênio Carneiro da Luz, a colocar os presos em formação militar, pela qual eu e ele passaríamos, como se faz em algumas solenidades oficiais: “revista das tropas”. No momento em que passávamos diante do Dequech e, sem que eu me apercebesse da sua presença, ele disparou uma cusparada e gritou “Vou fugir desta m... e vou te pegar!”.

            Ênio, imediatamente, mandou colocá-lo numa “solitária”, ocasião em que repetiu que fugiria para me matar.

            Passou a pesar sobre mim uma permanente e terrível ameaça.

            Ele realmente conseguiu fugir, mas criou uma confusão em um bar de Guaramirim e foi assassinado, por outro arruaceiro foragido da Penitenciária, o filho do João Romário, Diretor do Ensino e Presidente do PTB local.

            Este episódio foi uma das maiores tragédias que presenciei em minha longa vida política.

            Cheguei a conclusão que não era a minha hora e que Deus, que me deu este tesouro incomparável que é a vida, dela irá dispor quando decidir por sua divina vontade.

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