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quarta-feira, 6 de março de 2013

“Se as coisas do passado acontecessem no presente”. Paulo Konder Bornhausen.



“Se as coisas do passado acontecessem no presente”.
Paulo Konder Bornhausen.
Passado.
Praia de Cabeçudas, Itajaí, verão de 1935.
Irineu (meu pai) aciona o fone ligado por um grosso fio a uma
“tralha” encostada na parede da sala, o que se dava o nome da grande
invenção, o telefone. Estava na sua pequena casa na Praia de Cabeçudas,
uma das quatro de material entre as vinte existentes no lindo local, cujo
acesso era difícil e o aspecto totalmente agreste, com uma vegetação
rasteira que encobria metade da areia da praia, cujo nome teria origem por
ser um recanto procurado pelas tartarugas que em quantidade exibiam
suas cabeças no mar. Além das casas de material havia outras quase 20
de madeira, dos pescadores ou moradores de Itajaí. Havia também um
hotel tido como um dos melhores do Estado; Hotel Cabeçudas.
Era um prédio de dois andares com fachada de material e as
divisórias de madeira , com um pequeno anexo em cima do segundo
andar, onde se alojavam os proprietários e suas três filhas.
Irineu – “Alô Telefonista, aqui é o Irineu, do nº 6. Queria falar com o
número 4, com o seu Zwoelfer do Hotel Cabeçudas”.
A telefonista responde – “Sim, senhor Prefeito, vou providenciar a
ligação”.
Três minutos ficou aguardando com o fone nos ouvidos, quando o Zwoelfer
atendeu.
- “Alô, quem é?”
- “Zwoelfer é o Irineu, queria encomendar uma janta para um
industrial, meu amigo Mario de Almeida e a mulher, Dr. Menescal e a
Dona Odete e Antonio Ramos e a esposa”.
Zwoelfer: – “Clarro, sem prroblema srr. Prrefeito”.
(Irineu ainda era Prefeito, eleito por duas vezes, foi deposto pela revolução
de 30 e o golpe do Estado de 37).
Zwoelfer: -“Eu vai prreparrar um sopa de tartarrugas, um salada
de pepinas, peixe frrita, um pirrão, “Cattoflen” e arroz brranco, de
sobrremesa uma “strudel” de bananas e um glitz de uvas com leite.
Posso serrvir uma boa vinho do Reno ou da Mosele, que acaba de
receberr da Europa. Ta boa assim?”
Irineu – “Excelente Zwoelfer, estaremos aí às 19:00hrs em ponto”.
(Era horário que se servia o jantar).
Logo avisou a Marú (como ele chamava minha mãe e pediu a Adê
(uma sobrinha deles que viveu a vida toda em suas casas) que ficasse com
os garotos, Paulo com seis anos e Roberto com dois. Jorge ainda não tinha
nascido. Os meninos brincavam com as três filhas do Zwoelfer, únicas
crianças que conheciam, a Mause, a Pupe e a Zig. Ioiô, amarelinha, bolas
de gude e desenhos na areia da praia.
Em seguida Irineu, de terno branco de panamá, camisa com gola
engomada, gravata borboleta azul, sapato de verniz e a sua inseparável
palheta com fita preta, entrou no seu “Ford bigode” o mais moderno da
cidade, sem esquecer a manivela que poderia precisar se o motor pifasse e
dirigiu-se para Itajaí. A entrada era precária, toda pedregosa, cheia de
sinuosas curvas, beirando o litoral, praia do Jeremias, Bico do Papagaio,
Praia da Atalaia, passava em frente do Hospital Santa Isabel e na chegada
da cidade atravessava o curtume do Fritz Schneider, que tinha um cheiro
insuportável. Era tão estreita que o obrigava a terríveis manobras, se
entrasse algo no caminho, um carro de boi, uma carroça, uma charrete,
um carro de molas puxado a cavalos, que era o meio de transporte pago,
mais usual, ou eventualmente um dos raros automóveis de proprietários
itajaienses. Chegando a cidade, foi em direção a Barra do Rio, para no
caminho encontrar-se com o Antonio Ramos, na Cia Itajaiense de
Phosforos (CIP), que era proprietário com o amigo.
Depois de longas tentativas conseguiram que a telefonista localizasse
o Dr. Menescal, para avisá-lo do jantar. Estava no Hospital Santa Isabel.
Dr. Menescal era um nordestino e um dos três médicos do município,
morador também de Cabeçudas.
As 15:00hrs da tarde, Irineu, já com o seu motorista Roberto
Tietchem, foi para o Porto de Itajaí recepcionar o casal de amigos que
chegaria no navio Karl Hoepke, vindo do Rio de Janeiro (fiz esta viagem
quando tinha 11 anos, em companhia do Nestor Schiefler sócio do meu pai
e do Nelson Heusi na Bornhausen & Cia (firma de despacho aduaneiro) e
do primo Antonio Carlos Konder Reis, que tinha 15 anos. O pequeno vapor
(como chamava-se na época) quando saia de Itajaí, parava em São
Francisco, Paranaguá, Santos e Angra dos Reis, antes de chegar ao Rio
(viagem cerca de cinco dias).
A chegada do vapor era uma festa na cidade. Dezenas de pessoas se
encontravam no pequeno trapiche onde ficaria atracado, depois que a
lanchinha do Pratico (piloto conhecedor do canal que ficava entre o mar e o
porto) chegasse ao vapor, fora da barra, para assumir o comando.
Recepcionado o casal Mario de Almeida, Irineu, levou-os para o Hotel
Cabeçudas onde ficariam três dias hospedados até a volta do vapor que
ainda iria a Florianópolis. Irineu recomendara ao Zwoelfer que reservasse
um quarto perto do banheiro, que eram dois, no corredor do segundo
andar, se não me falha a memória, com dez ou doze quartos, dos quais o
melhor era de exclusividade de meu tio Marcos Konder, que lá residia
permanentemente e era o então Presidente da Usina de Açúcar Adelaide,
situado numa vila perto de Itajaí, chamada Pedra de Amolar.
Por volta das 18:00hrs, Irineu foi buscar o casal para levá-los a sua
residência, onde já estavam os outros quatro convidados. Os homens de
terno e gravata borboleta e as mulheres de vestidos longos e pomposos
chapéus, como mandava a moda da época.
Marú, serviu um vermuth seco e um conhaque macieira para os
homens, groselha de framboesa e água mineral da Guarda, para as
mulheres, acompanhados de amendoins com casca e azeitonas.
Dez para as 19:00hrs Irineu alertou:
- “Pessoal vamos jantar, pois o alemão vira uma fera se chegarmos
um minuto atrasados”.
Antes de sair, Marú avisou a Adê:
- “Não esqueça os mosquiteiros nas camas dos garotos.”.
Zwoelfer, vestido de paletó branco, camisa branca com colete, gravata
borboleta e um “pataco” (relógio de bolso) pendurado no colete, estava de
bom humor, pois havia bebido alguns copos de vinho.
- “Bom noite, entrre pessoal”. E os encaminhou para uma mesa no
restaurante, onde estava pendurado no centro, uma grande casca de
tartaruga e havia no fundo um bar, que tinha um grande armário de
madeira hermeticamente fechado, onde eram colocadas as barras de gelo
fabricadas pelo seu Zena em Itajaí. Ali eram guardados os alimentos
perecíveis e as bebidas, para ficarem gelados.
Depois de todos sentarem, o Zwoelfer. e o garçon Ivo, colocaram
sobre a mesa todos os pratos feitos.
- “Esperro que esteja gostosa srr. Prrefeito, vou buscarr os
vinhos”.
O ágape foi descontraído, a conversa versava sobre um possível
golpe de Estado que Getulio Vargas, o Presidente da República, estava
preparando com o sr. Ministro de Justiça Chico Campos e o Chefe da Casa
Civil, Lourival Fontes, que preparava os discursos de Getúlio.
A comida bem caseira, mas sempre saborosa.
Fim do jantar, Irineu que não gostava de pendurar contas, começou
a tirar da carteira os seus contos de reis para pagar o recibo que o Ivo lhe
apresentara num papel branco escrito a mão.
Três dias depois de belos dias e banhos de mar que esteve calmo
nesta oportunidade, o que era raro, Irineu com seu motorista levaram o
casal Mario Almeida que voltariam no Karl Hoepcke que chegara de
Florianópolis, rumo a Capital Federal.
Presente.
Praia de Cabeçudas – Itajaí verão de 2013. (Como se todos os locais e
pessoas existissem com a idade de 1935).
Irineu no seu iphone encomenda o jantar e o sr. Zwoelfer com o seu
blackberry responde;
- Irrineu está tudo certa. Vamos preparrar um “Caeserr Salad” e
um mousse de carrangueijos da Alaska. Como prrato prrincipal, uns
rrãs a prrovençal, uma “Magrreta de Canarrd” com geléia de
frramboesa e batatos “flambada”. Parra sobrremesa uma “Crema
Brulee” e frrutas. É boa assim?
- Ótimo sr. Zwoelfer. Responde Irineu pelo iphone.
Como o jantar seria as 21:30hrs, Marú preparou um aperitivo na
sua bela residência. Um coquetel para os homens, com Kyr Royal, queijo
Brie e da Serra da Estrela de Portugal, acompanhado de salmão,
casquinhas de siri e garras de Goiá, comprados no Luiz pescador, casado
com nossa cozinheira Laura, que morava em frente a Ilha das Cabras no
caminho que levava para Itajaí, com asfalto novo, bem sinalizado, largo e
com a encosta toda florida.
As 10:00hrs partiram para o cinco estrelas, Hotel Cabeçudas. Irineu
trajava um impecável terno escuro de seda italiano, camisa Brione, gravata
Pierre Cardin e um chapéu de feltro que comprara em Milão. Marú,
elegantérrima, vestia um belíssimo Chanel.
Quando chegaram, foram levados pelo Zwoelfer diretamente ao
lindíssimo bar do Hotel que ficava ligado ao Restaurante que tinha sido
copiado do Maxim’s de Paris, inclusive as cortinas, os lustres de cristais
franceses e candelabros de prata, sobre todas as mesas, com velas acesas
na hora do jantar. Os talheres de prata e a louça alemã Villeroy & Boch.
Mais adiante ficava a boate Alles Blau, pintada com suave azul
marinho e a pista de dança de porcelanato, onde os convivas dançavam
após o jantar animado por seu Dj contratado pelo Zwoelfer em São Paulo.
Durante o jantar a conversa prevaleceu sobre política. Em certo momento,
depois de comentar os últimos acontecimentos, a “burra” política
econômica do Mantega, Irineu exclamou; - “Agora só falta o racionamento
e a escalada da inflação para Dilma ir para o espaço”. O que retrucou o
Mario; - “Irineu, se isso ocorrer voltaremos para o inferno com a eleição do
Lula”. Ainda comentaram sobre a eleição do corrupto Renan Calheiros e o
relato de um cientista americano que anunciava para a próxima década a
colocação de um “chip” no nascituro que permitiria acompanhar os órgãos
e suas futuras fragilidades para serem combatidas antecipamente, o que
causou desconfiança ao Dr. Menescal.
O jantar foi um luxo. Na ocasião o Sr. Zwoelfer estava trajando
casaca preta com colarinho cinza, calça listrada, impecável, e o Ivo,
garçom, vestia um terno de linho preto, gravata borboleta cinza. Foi
servido de forma elegante, a francesa. Acompanhado com vinho Petrus
depois de uma taça de Champage Brut e água mineral Perrier.
Ao final foi servido um cálice de vinho do Porto 1887.
Terminado o jantar, Irineu usou seu cartão de Crédito Visa Platinum,
pagando a nota fiscal impressa, embutida numa caixa de madeira de lei,
que o Ivo lhe trouxera a mesa.
Dançaram um pouco na requintada Boate Alles Blau e em seguida,
enquanto o casal Mario de Almeida recolhia-se na Suíte Presidencial do
luxuoso Hotel, no décimo andar, no qual iria trabalhar no seu notebook ou
ipad. Os demais seguiram para as suas residências, Irineu na Mercedes do
último tipo e Antonio Ramos com a sua Ferrari e Dr. Menescal no seu
BMW.
Irineu ligou a televisão 3D e Marú foi ver como estavam os meninos
no quarto com ar refrigerado.
A Globo em edição extraordinária anunciava a tragédia de Santa
Maria. Irineu gritou – “Marú venha ver a tv, pegou fogo numa boate,
chamada Kiss, em Santa Maria no Rio Grande do Sul, com centenas de
mortos e feridos”.
Marú veio correndo, para assistirem estarrecidos a tragédia ocorrida.
Terminando a reportagem, o repórter comentou a eleição do corrupto
Renan Calheiros para a Presidência do Senado, os incêndios nas viaturas
em Santa Catarina e descreveu sobre a continuação do massacre na Síria.
Custaram a dormir, sem antes Marú rezar, o que fazia habitualmente, até
morrer aos 96 anos.
Antes disso, terminando o jantar, lembrou-se Irineu que prometera
levar seus convidados a cidade para conhecerem a nova Prefeitura, o local
onde anualmente se realiza a Marejada, o movimentado e moderno Porto
de Itajaí e novíssimo Porto de Navegantes, sem esquecer do Museu Marcos
Konder, no antigo prédio por ele mesmo construído, e adiantou que no dia
seguinte levaria para conhecer o majestoso Balneário de Camboriú e o
“point” do momento, a Praia Brava.
Foi o que aconteceu, tendo almoçado no excelente “Chez Raymund”
e no dia seguinte no Restaurante Vieiras em Itapema, onde se come os
melhores frutos do mar da região.
O casal carioca ficou encantado com tudo que viu e cumprimentou o
Prefeito por sua excepcional administração, o que deixou Irineu muito
feliz.
No terceiro dia, Irineu foi buscá-lo no Hotel para levá-los ao
Aeorporto de Navegantes, onde pegariam um Airbus 320 que os levaria ao
Rio, onde permaneceriam cinco dias, pois estavam de viagem marcada
para Dubai, alias no mesmo dia em que Marú e Irineu iriam para Bali.
Pois agora?

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